A Cultura da Índia
A civilização indiana possui mais de cinco mil anos de idade. Durante este longo período ela produziu uma cultura bastante original, avançada e diversificada. Apesar das inúmeras diferenças regionais, sociais e linguísticas presente no país, sempre existiu uma unidade básica na cultura indiana. Além disso, ela manteve uma continuidade ininterrupta desde os tempos védicos até os dias de hoje, apesar das incontáveis guerras que assolaram o país, invasões estrangeiras e dois séculos de dominação britânica. Esta indestrutível unidade e ininterrupta continuidade da cultura indiana são derivadas das suas profundas raízes espirituais.
A civilização védica – segundo o que consta nos Vedas, foi a civilização que floresceu na região do subcontinente indiano e tinha como base de sua cultura (tanto material quanto espiritualmente), os princípios que hoje podemos encontrar nos textos védicos. A civilização védica desenvolveu-se entre 2.000 e 1.000 a.C. O sânscrito védico persistiu até o século VI a.C., quando a cultura começou a transformar-se nas formas clássicas do hinduísmo (termo forjado pelos europeus). Este período da história da Índia é conhecido como a era Védica.
Muitos historiadores consideram os Vedas os textos sobreviventes mais antigos. Estima-se que as partes mais novas dos vedas datam a aproximadamente 1000 a.C.; o texto mais antigo é o Rigveda. Há quatro Vedas: Rig-Veda, Yajur-Veda, Sama-Veda e Atharva-Veda. Cada um deles está dividido em quatro partes: Samhita, Brahmana, Aranyaka e Upanishad.
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Estas verdades e princípios eternos do mundo espiritual estão dispersos nos Upanishads e foram reunidos e codificados por Badarayana, na forma de sutras ou aforismos no século V a.C. Estes sutras, conhecidos por Brahma Sutras, compõem os alicerces do sistema filosófico conhecido por Vedanta.
Assim, o termo Vedanta representa três coisas interrelacionadas:
a) A coleção dos Upanishads, que compõem a última e mais importante parte dos Vedas;
b) As verdades e princípios eternos da vida espiritual;
c) O sistema de filosofia baseado nos Brahma Sutras.
Entretanto, o termo Vedanta é mais utilizado quanto ao último sentido da Vedanta-Darshana (Filosofia Vedanta). Neste sentido, é preciso dizer que surgiram mais outros cinco sistemas filosóficos na Índia durante os primeiros séculos da era cristã, que são:
1) Mimansa, fundado por Jaimini
2) Vaisheshika, fundado por Kanada
3) Nyaya, fundado por Aksapada Gautama
4) Sankhya, fundado por Kapila
5) Yoga, fundado por Patanjali
Estes cinco sistemas filosóficos sempre ficaram confinados a pequenos grupos de intelectuais e nunca se identificaram com a principal corrente religiosa da Índia, deixando de estar em voga com o decorrer do tempo. Somente a Vedanta permaneceu como a principal filosofia da Índia remanescente do período védico. Como mencionado anteriormente, Vedanta é filosofia e religião, e esta tradição filosófico-religiosa tornou-se conhecida por Sanatana Dharma – Religião Eterna – e, posteriormente, hinduísmo.
Outras Escrituras sobre Vedanta
Embora os Upanishads constituam a fonte mais original e importante da Vedanta, eles não são as únicas escrituras sobre Vedanta. Muitos outros livros também foram aceitos e tornaram-se referência. Entre eles, o mais importante é o Bhagavad Gita. Outra referência são os Brahma-Sutras.
Três fases da Vedanta
A Vedanta não é uma filosofia ou religião estagnada. Na verdade ela é muito dinâmica, e por isso está em constante crescimento, o que a torna capaz de enfrentar novos desafios e superar novos obstáculos. Neste processo de crescimento, a Vedanta passou por três fases:
(I) FASE FORMATIVA: Esta fase se estendeu de aproximadamente 1.000 a.C. até 300 a.C. Durante este período os Upanishads, o Bhagavad Gita e os Brahma-Sutras (estas três escrituras juntas são chamadas de Prasthana-trava), forneceram os conceitos básicos da Vedanta como o Atman e Brahman.
(II) FASE ESCOLÁSTICA: Esta fase se estendeu aproximadamente do século VIII até o século XIII d.C. Durante este período, grandes mestres, como Shankara, explicaram e expandiram as visões originais obtidas pelos rishis dos tempos védicos através da introspecção e dos ensinamentos do Bhagavad Gita, estabelecendo a Vedanta como um sistema filosófico convincente e detalhado.
Mas durante este período, a Vedanta se subdividiu em numerosas escolas filosóficas e seitas religiosas. Estas escolas filosóficas continuaram com intensos debates sobre elas mesmas e isso manteve seu vigor intelectual. A Índia produziu, durante este período, um bom número de grandes eruditos e pensadores.
As principais seitas religiosas produziram muitos santos. E estes santos espalharam as ideias vedânticas entre as pessoas comuns através de canções e ensinamentos. Aqui é preciso mencionar que duas tradições filosófico-religiosas associadas com a cultura Indiana, a saber budismo e jainismo, surgiram como movimentos espirituais no século VI a.C. Elas compartilharam de alguns dos conceitos básicos do antigo sistema de crença védica, tal como karma, [avidya], reencarnação, samsara, dharma e experiência espiritual direta.
(III) FASE MODERNA: A terceira fase da Vedanta foi inaugurada por Sri Ramakrishna e Swami Vivekananda no século XIX. Durante este período, a Vedanta evoluiu de uma filosofia religiosa étnica para uma filosofia de vida universal. As principais transformações trazidas por Sri Ramakrishna e Swami Vivekananda são:
Rejuvenescimento: Sri Ramakrishna representa o elo entre a Índia antiga e a Índia moderna. Através do seu tremendo esforço espiritual, Sri Ramakrishna reviveu nos tempos modernos toda a gama de experiências espirituais dos sábios e santos do passado védico, confirmando, assim, como verdadeiras as verdades contidas na Vedanta.
Modernização: a grande obra de Swami Vivekananda foi tornar os antigos conceitos vedânticos aceitáveis às mentes modernas pela interpretação das verdades eternas sob a luz da razão e do pensamento moderno e científico. Esta versão modernizada é aquela que os hindus educados nos dias de hoje entendem por Vedanta.
Integração das Escolas Filosóficas: A Vedanta se dividiu em diferentes escolas durante o período medieval. Swami Vivekananda foi o responsável pela reintegração das mesmas, e só conseguiu isto através do reforço da base comum entre elas, o princípio do Atman, demonstrando que as diferentes escolas representam, na verdade, diferentes estágios da realização espiritual.
O Advaita Vedanta é a forma mais comum da filosofia do Vedanta. Esta é a doutrina não dualista do Vedānta. Advaita significa literalmente “não dois” e na maioria das vezes se traduz em não dualidade. Seu princípio fundamental afirma a não diferenciação da individualidade ou da alma individual (jivatman) e da Totalidade (Brahman) que é neutra. Essa doutrina foi ensinada pelo reformador religioso Adi Shankara.
Adi Shankara é considerado um dos mais importantes mestres da escola védica. Shakara, ou Shankaracarya. Nasceu no Sul da Índia (788-820 d.C.), numa família de brahmanas ortodoxos seguidores de Shiva. Ainda jovem, tornou-se um asceta e compilou seus dois principais comentários do Vedanta-sutra: Viveka-cudamani e Sariraka-bhasya.
Viajou muito pela Índia e morreu nos Himalaias, aos 32 anos. Na época em que o mestre impersonalista Shankara apareceu, o budismo se espalhava por toda a Índia. Porque contava com o apoio do imperador indiano Asoka. Era uma filosofia também impersonalista, porém contrária aos Vedas. Shankara, por sua vez, procurou reformar e purificar a vida religiosa. Ele reafirmou a autoridade das escrituras védicas, as quais a filosofia budista rejeitara por completo.
Alguns pesquisadores da filosofia védica consideram os ensinamentos de Shankara um compromisso entre o teísmo e o ateísmo. Pois, com o advento do completo ateísmo da filosofia budista na Índia, restaurar o conceito teísta da literatura védica tornara-se muito difícil, mas Shankara logicamente ajustara-se ao tempo e às circunstâncias. Suas interpretações assemelham-se ao budismo, porém recorrem à autoridade da literatura védica.
Em seus poucos anos de pregação, onde quer que viajasse pela Índia, sua filosofia prevalecia, e a ela o budismo se curvava. Durante um longo período, para muitas pessoas, o Sariraka-bhasya de Shankara foi a explicação definitiva do Vedanta. E ainda é assim para muitos estudiosos ocidentais.
Segundo Dilip Loundo, doutor em filosofia indiana e professor do Departamento de Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora, em seu artigo “As Raízes Hinduístas do Budismo” defende:
“O desenvolvimento da tradição budista do Mahayana, alguns séculos após a morte do Buda histórico, como desdobramento dissidente das tradições originárias do Abhidharma, constitui um momento importantíssimo no processo de restabelecimento dos elos com as religiosidades hindus e, em particular, as matrizes védicas, que haviam sido abalados com a crítica contundente do Buda. Esse fenômeno manifesta-se, no que tange à dimensão filosófica e iniciática, a notória aproximação entre, de um lado, a tradição sútrica emergente (os sutras específicos do Mahayana) e suas principais escolas, e, de outro, certas correntes hermenêuticas dos Upaniṣads, em especial a escola do Advaita Vedanta e as tradições iniciáticas dos Tantras Saivistas. Das interações com os Tantras Saivistas, cuja consolidação mais duradora foram os desdobramentos do budismo vajrayana no Tibet, surgem variantes disciplinares de grande repercussão, como é o caso da “laicidade iniciática” que contempla a utilização, sempre condicionada ao preenchimento dos pré-requisitos de elegibilidade, das práticas cotidianas como trampolim para a realização do nirvaṇa. Caso emblemático desse processo é a centralidade narrativa do bodhisattva leigo Vimalakirti no sutra homônimo denominado Vimakirtinirdesa Sutra. Por outro lado, o desdobramento de conceitos-chaves do budismo a “co-originação dependente” e a “vacuidade” (sunyata) – em versões eminentemente positivas como é o caso da noção de Absoluto ou “Natureza Búdica” (Tathagatagarbha) aproximam grandemente o empreendimento budista da tradição dos Upaniṣads e seu Absoluto ontológico Brahman. Testemunho disso é uma passagem extraordinária do Lankavatara Sutrana, do qual Mahamati, discípulo do Buda, pergunta ao mestre se, de fato, o Tathagatagarbha do budismo e o Brahman dos Upaniṣads não seria uma mesma realidade.”(fonte de pesquisa: https://periodicos.ufjf.br/index.php/numen/article/view/22103/ realizado em 06/03/2022).
Pretendeu-se com essa pesquisa, fornecer estudos que comprovassem a origem do pensamento oriental e sua espiritualidade atribuída aos textos mais antigos da humanidade, a filosofia religiosa dos Vedas, a proximidade com o surgimento dos ensinamentos do budismo atual, mais específico das escolas mahayana e vajrayana, que surgiram bem posterior à consolidação da cultura indiana e dos ensinamentos do Buda. Muitos estudos comparados poderão ser feitos aos Upanishads e aos sutras budistas que só acrescentarão tamanha similaridade de pensamentos e ensinamentos.
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